Um vento me foi soprado e me levou a ferrugem amarga da minha eterna dor, fui feliz durante cinco segundos, mas eu sou de ferro, enferrujo de novo, não me vão dissociar da minha dor, a dor da alma torturada que quer paz.
Quero a paz do choro e do silêncio, as lágrimas que aquecem meu rosto e que vem de uma pulsão de uma energia que indica que estou vivo, aqui e agora. Sofrer é viver e sofrer em paz é viver dignamente. A beleza dos arredores não toca minha verdade interior e a insatisfação da falta de identificação queima o que já está completamente destruído, a labareda que insiste em terminar todos os grãos para não deixar qualquer indício do que era. A falta do passado erra meu futuro, e de novo, a encruzilhada se interpõe entre minha vida e minha morte, morte prometida e não cumprida, por certo, devido ao excesso de sensações. A loucura só é permitida quando a anestesia se prolifera, e quando o meu espírito me anestesia, sem proporção de conseqüências, ele pode querer me destruir.
O que em mim será fugaz? O que de mim vai fugir? Eu não quero perder, eu quero saber lidar e quero voltar de onde vim, quero ir para onde eu sou melhor! Quero ser purificado das minhas vontades e das minhas necessidades. Eu sei que não vou perder o controle, a dor resigna, mas eu não quero não estar tranqüilo.
Quero surpresas, que me puxe a sensação do inimaginável, do quase-perfeito, daquilo que propõe a solução, novos ventos que me desenferrujem e que voltem a me enferrujar, porque eu estou no ponto de não conseguir mais respirar sem a minha falta amarga de ar. O vento frio que me corte em brotos e me faça renascer em muitas outras tentativas, sem aquilo que aqui me limita, me prende, me suga e me indispõe.
Natureza perfeita, eu quero ser um grão teu, sentir o teu conforto, teu calor que protege do gelo que eu sinto na minha pele, quero te pertencer, me salva dessa convenção que é ilusória e que esfacela meu espírito. Eu não tenho a quem clamar se todos estão contaminados pela mesma doença que também é minha. Tu, natureza, me determina! Não te me apresentes assim tímida! O que vai me sobrar depois dessa química organizada? Indica a mim o caminho que eu já sou teu, mas não te respeito como deveria.
Não adianta: eu vou continuar a sangrar com os olhos fixos na podridão daquilo que me cerca.
Lorenzo Baroni Fontana