Dialogue avec Marcel Proust

– Tu me fâches, Marcel! Marcel, tu décontenances le sens de ma vie! Tu l’as gâtée, Marcel!

(Silence)

– Ça, c’est tout, Marcel?

– Longtemps, je me suis couché de bonne heure. Et, une demi-heure après, la pensée qu’il était temps de chercher le sommeil m’éveillait. Un homme qui dort tient en cercle autour de lui le fil des heures, l’ordre des années et des mondes.

– Mais c’est beau! Parce que les temps de ta vie se sont melés et ta folle perception du temps a fait de toi un aveugle, tu n’as pas le droit de me détruire comme ça.

– Ces évocations tournoyantes et confuses ne duraient jamais que quelques secondes.

– Moi, je me tuerai, Marcel! Marcel, j’envoyerai ma vie aux cieux! Tu le vois bien! (en se rapprochant de la fenêtre)

(En parlant tout doucement) Ne dites pas ça. Ne faites pas ces yeux-là, mon cher. Sortez à la recherche de votre temps perdu.

– Je n’ai même pas de temps, je crois que je n’en ai jamais eu. Le réel m’a abandonné: je regarde plus, j’écoute plus, je touche plus, je goûte plus, je sens plus…

– Vous avez besoin de vous faire porter à vos lèvres une cuillerée de thé où un morceau de madelaine s’est amolli.

(Silence dramatique, lèvres tremblentes) Tu n’as pas honte de se moquer de moi dans l’état déplorable que je me trouve ou tu crois vraiment (criant et pleurant désespérément) qu’un morceau de <<ma-de-lai-ne>> va adoucir ma vie??

– Longtemps, je me suis couché de bonne heure…

– Bonheur, bonheur…

– Bonne heure! Et, une demi-heure après, la pensée qu’il était temps de chercher le sommeil m’éveillait. Un homme qui dort tient en cercle autour de lui le fil des heures, l’ordre des années et des mondes.

– Bonheur, bonheur…

De loin, on a vu un petit corps qui s’est jeté du dixième étage d’un haut bâtiment. Une demi-heure après, il s’est reveillé, s’est levé et a continué sa promenade dans les jardins fleuris.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 21 octobre 2011 at 18 h 20 min  Laissez un commentaire  

Água e terra em Paraty

Uma noite que de nossos dias se distancia há já tempos – tempo em que os fenômenos naturais ainda determinavam os caminhos por onde seguir – houve grande catástrofe de origem passional entre céus e mar. As águas do mar revestiram-se em fúrias e exigiram intimidades com os montes que as bordeavam sem, no entanto, dar-lhes atenção. A rejeição sentida pela intimidade feminina reverte-se no mais tenebroso perigo que se pode experimentar. As forças que os poderes dos ventos concediam às águas eram sua principal arma contra o objeto de seu desejo, tão próximo e tão indiferente a elas. Por seu turno, o rochedo soltava seu veneno salino, contaminando quem o amava com o amargor de suas pedras. Os conflitos desencadeados pelos sentimentos amorosos sempre transformam completamente quem toma parte neles.

Eis a intimidade forçada entre mar e montanha que expressa seus momentos de calmaria nos recortes litorâneos das baías, onde as pedras penetram o mar e onde o mar penetra as pedras, formando um conjunto tão inseparável de água e terra que não me é lícito afirmar que se tratam de coisas cujas naturezas sejam distintas. O embate amoroso uniu-os infinitamente em um só, sem que cada parte perdesse traços característicos de sua identidade.

Ainda hoje – tempo em que esse conflito continua, sem, no entanto, desvelar-se explicitamente – é possível perceber a influência da presença de uma parte na outra. Os mares estão repletos de pedaços de terra submersos ou escondidos debaixo das águas, sustentando uma diversidade biológica que definitivamente não lhes faz diferença alguma. Ambas são a sua fonte de alimento vital una. Por outro lado, em todo o final de tarde as águas lançam à terra o vapor de sua própria presença, como uma véu que encobre aquilo que no alto é muito visível e frágil para manter sua dignidade.

Em todos os encontros – no sentido do bem –  e embates – no sentido do mal – amorosos entre terra é mar, estes tomam parte através de inúmeros disfarces, que na superfície enganam sua verdadeira natureza, mas no fundo são exatamente a mesma coisa. A terra endurece em forma de pedra, se eleva às alturas do seu bem-amado e cai-lhe aos pés. A terra ainda reveste-se de verde para ser mal-identificada e deixa-se cortar pelas águas do rio que a arrastam para a presença de quem a ama. O mar vaporiza-se para atingir o patamar da sua companheira, entra na corrente do vento para se transportar e, ao cair novamente em forma líquida, agarra-se a parte da terra e carrega-a consigo de volta para o lar que acolhe o casal.

Paraty é o locus em que se desenvolve esse círculo dialético infinito, e onde, em dado momento – o qual os historiógrafos situam muito bem – a presença humana se assentou e espalhou sua arte sem, entretanto, aperceber-se claramente desses encontros e desencontros que se fazem enigmaticamente disfarçados em identidades plurais que, na confluência delas mesmas, é uma só. Esta é uma firme beleza que não nos abandona.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 12 octobre 2011 at 20 h 48 min  Laissez un commentaire