Ver, pulcher fons

Hoje o renascimento de uma parte da vida, simbolizado pela primavera, me traz duas inquietações. A primeira diz respeito a um certo alívio que me imprime a certeza da circularidade do universo. A segunda é a angústia de perceber a minha tolice operando desordem naquilo que é formosamente ordenado.

Se posso ter certeza de que tudo o que se vai, voltará – assim como as estações do ano –  meu espírito saboreia a paz tanto reclamada da tranquilidade dos passos na vida. Pois, se estou seguro de que a vida sempre reproduzirá os mesmos movimentos, estarei mais calmo para me deleitar com os passos que dou. E, se considero que preciso melhorar – e só se pode estar melhor em relação às emoções que constroem as ações –  é aqui  em que eu me deterei, porque o homem não é mais que sentimentos em movimento.

Porém, ao perceber o valor atual dos meus sentidos – e do homo urbanus insapiens em geral –  estou angustiado em perceber que sou tolo e não busco a serenidade. Na verdade, eu não gosto do homo urbanus insapiens. Prefiro as sereias do mar e os velhos dos bosques, mas isto está ocultado em mim, e a minha aparência não revela a verdade que ela obscurece. Eu gostaria de operar em mim – a partir das duas inquietações que a primavera me concede – o movimento oposto ao que até agora eu segui, mas ciente de que não posso escapar da circularidade dos acontecimentos.

Que a circularidade de tudo seja tão magnânima quanto esta que a primavera abre – ou finda, ou continua – e que não se me apresente como uma rede que me prende na impossibilidade de me livrar das angústias causadas pelas tolices da raça da qual eu sou também um representante.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 23 septembre 2011 at 17 h 22 min  Laissez un commentaire