Entre les chiens et les loups

Felicidade eu sinto para dentro,
em um movimento introspectivo de acorrentamento.

Tristeza eu sinto para fora,
em um movimento centrífugo de afugentamento.

Os sentimentos caros que eu desejo resguardar não precisarão dos ares alternos,
apenas se alimentam de mim, na minha interioridade.

Os sentimentos parvos que eu insisto em declamar precisam ser derramados,
para, no desvelamento de si mesmos, trazerem a lição de benignidade.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 27 juillet 2011 at 13 h 31 min  Laissez un commentaire  

O Rio de Janeiro e a crise de identidade brasileira II

No Brasil a primeira metade do século XX terminou em harmonia com as tendências internacionais e o país já havia definido a sua gama de simbolismos cuja base natural era obviamente a diversidade. O ser e o viver carioca se enquadravam perfeitamente dentro do estereótipo brasileiro exportável: ele era alegre e harmonioso, descompromissado e sem tendências bélicas, muito afeito a festividades e, principalmente, como elemento do litoral, irmanava lindamente com todos vindos de fora (seja via continente ou via mar), em um movimento antropófago de pertencimento total entre qualidades distintas. Todas as brasilidades se poderiam encontrar e conviver no Rio de Janeiro, fazendo desta mistura e desta tolerância a característica cultural mais forte do Brasil. Paralelamente a esta conjuntura amável em aparência, entretanto, regressava o grande e velho problema brasileiro, cada vez mais desenhado no horizonte das grandes cidades do país: a maioria da população, abandonada e atraída aos grandes centros urbanos (Rio de Janeiro e São Paulo, a partir do início da segunda metade de século) a inflarem os subúrbios – e centros abastados – desordenadamente e a trazer novos componentes culturais no caldo da cultura já miscigenada das metrópoles.

A principal corrente migratória interna concentrou-se do Nordeste ao Sudeste brasileiro, cuja força se faz sentir culturalmente nas duas primeiras cidades brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo) ainda hoje, especialmente na capital paulista. O Rio de Janeiro, como centro cultural e recém ex-capital brasileira, comportou em seu território, ao longo de cinco séculos, portugueses  de alta e baixa sociedade, negros escravizados e libertos de diversas regiões brasileiras, indígenas costeiros domesticados à moda europeia, além de toda a sorte de comerciantes e aproveitadores vindos dos quatro cantos do mundo que previsualizavam na cidade a possibilidade de conquistas comerciais, enriquecimento rápido e farto ou o sonho da vida tropical tranquila. A importância de toda esta mestiçagem representa justamente a grandeza do Brasil como território de encontro do mundo, de tolerância e diversidade étnica e cultural. Ser carioca e ser brasileiro significava a confluência de todos estes mundos. O que efetivamente segregava os grupos dentro desta sociedade complexa era o poder econômico e não as diferenciações étnico-culturais.

O crescente subúrbio empobrecido da ex-capital brasileira não concentrava necessariamente guetos étnicos, mas miscigenava toda sorte de pessoas pobres, fossem ex-escravos, portugueses aventureiros, nordestinos ou mestiços indígenas. O acesso aos bens públicos e a possibilidade de ascensão social estava interditada aos desprovidos de capital para adquiri-los. Ao mesmo tempo em que a cultura erudita local – em contatos íntimos com a cultura popular, como via de regra acontece – laureava a tolerância do convívio e miscigenação entre ímpares, o poder público fechava os olhos para a crescente maioria pobre que servia de matéria-prima do louvor brasileiro. Esta sensação de abandono faz surgir na rica e criativa cultura popular o despertar do improviso como forma de cuidar de si próprio, ao criar, muitas vezes, organismos independentes do controle estatal para suprir as necessidades básicas. Ausente o Estado e seus organismos, a rua passa a ser o espaço de convívio infantil, muitas vezes longe da influência educadora e repressora dos pais, e é neste convívio sem limites, sem a presença dos pais ou do Estado que surgem os valores distorcidos de uma nova geração interessada em resolver a próprio punho seus problemas.

A origem das associações criminosas de tráfico de entorpecentes e de demarcação de território por grupos de poder passa necessariamente por esta circunstância psicosocial de abandono e falta de direcionamento. Evidentemente por um dos polos do problema, uma vez que o criminoso armado in locu é apenas uma face da moeda, vulnerável o suficiente para a dança proposta pelos poderosos – o segundo polo do problema. O agravamento da situação entre os anos de repressão militar foi devidamente aproveitado por parte da imprensa, que criou disso um grande folhetim de assombro nacional em torno da aura da cidade do Rio de Janeiro. E é justamente no comprometimento desta identidade carioca – em que se assentava boa parte do reconhecimento identitário nacional – que o Brasil entra em crise de imagem. A partir principalmente dos anos 1980 e 1990, o romantismo da diversidade de outrora terá de conviver com o medo nacional do progresso urbano e com o forte temor à pobreza e ao pobre, agora sinônimo de criminalidade, além de marginalidade (no sentido de estar à margem da vida ideal). Realismos respeitados e conservados à parte, a força da representação construída por uma sociedade humana sobre si mesma é capaz de fazer mover com mais força o ciclo dos acontecimentos, em uma retroalimentação simbólica constante tão acelerada que se é impossível distinguir o cultural do natural.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 19 juillet 2011 at 20 h 19 min  Comments (2)  

Minuit de ma vie IX (la question que j’amène partout)

Ce que davantage je me demande toujours, n’importe dans quel context je me trouve, est le fou besoin de tout simplifier, dans une fausse prétention de faciliter la vie. Par qui forcer une simplification à ce qui apparaît simultanément et dynamiquement tressé aux yeux, lorsque c’est exactement ce champ de forces le sublime de la chose?

Que l’on ne critique pas assez mal ma conduite, mon besoin de complexité ou ma faible manière de mettre les choses.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 6 juillet 2011 at 23 h 50 min  Laissez un commentaire