Outono

A estabilidade de um sistema complexo perfeito é sempre mantida pela instabilidade dos fenômenos que o estruturam, desde que estes fenômenos sejam cíclicos e suas instabilidades previsíveis. Eis a lógica do sistema solar que é combustível para a manifestação do real gosto da Mãe Natureza. No hemisfério sul, março simboliza o enfraquecimento energético da atmosfera e o advento lento e suave das amenidades reclamadas pelas estruturas vivas reavivadas pelo calor.

A fúria cálida do sol em zênite aos poucos cede lugar às descansadas inclinações dos raios em timidez crescente, pondo a deitar pela escuridão as regiões fatigadas pelos festejos solares. O continente gelado embebeda cada vez mais as regiões de sua anestesia benevolente, em um convite para digerir as transformações e evoluções da última etapa tórrida. A fauna e a flora se ressentem e se compadessem da manifestação divina materna da perfeição no cumprimento de um novo ciclo.

Os ventos úmidos de convecção, que provocam tanta fúria nos verões planaltos do intertropical, paulatinamente cedem sua cena aos ventos frontais, mais pesados, mais insistentes e mais auto-confiantes, que sopram em um varrer de vestígios, sintoma de um egoísmo desbravador de quem conquista o terreno para si. Mas não se pense que o combate se esgota por um vencedor. O sol ainda reclamará seu espaço, borbulhando os oceanos e os ares a fim de criar os destemperamentos na conquista das regiões pelas trevas.

De uma luta injusta, em que as trevas triunfarão parcialmente sobre as luzes, intercalar-se-ão períodos de paz, reinado ora por um, ora por outro, no desequilíbrio necessário para satisfazer a perfeição da Mãe Natureza. Subjacente ao jogo de forças naturais, descansam em contentamento a flora e a fauna, cortejadas pelas destemperanças que lutam apenas para satisfazer as belezas de suas existências.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 20 mars 2011 at 18 h 01 min  Laissez un commentaire  

Minuit de nos vies

Pour réveiller,
Des pas lourds sur la tête.

Pour boire,
De l’eau de la pluie accumulée dans les caniveaux.

Pour frémir,
Des vents des fronts froids.

Pour manger,
Des cafards salés.

Pour frire,
Les canicules de mi-juillet.

Pour rire,
Les gens du beau monde.

Pour danser,
La cruauté des voitures roulantes.

Pour enrougir,
L’indifférence d’un frère passant.

Pour dormir,
Les marquises des géants neoclassiques.

Lorenzo Baroni Fontana

Published in: on 3 mars 2011 at 19 h 17 min  Laissez un commentaire